Thursday, February 16, 2023

Olhares de pecado...



Olhares de pecado...

Quando me olhas com esse olhar

Tudo em mim se tende a despoletar...

Toda a calma desiste de existir

E deixa tudo livre para o que está para vir...

Quando me olhas com ar de desejo

Sinto-me a inflamar de ensejo...

Quando dessa maneira tendes a olhar

Sinto que perdido tendo a ficar...

E sem norte

Abençoada pouca sorte...

Vem e faz de mim o que quiseres

Sim: dá palco aos nossos viveres...

Porque quando a ti me entrego

A mim me nego...

Sem saber onde estou

Sem saber como tudo começou...

Sinto que já não sou de mim

Sinto que me perdi num alucinante jardim...

Um espaço imenso e sem fim

Em ti: em nós...

Onde só reina o silêncio e a vontade atroz

Que desata todos os nós...

Onde a vertigem do canibalismo

Passa a ser conduzida pelo cinismo...

De querermos mais para além do puritanismo

De querer o suor a escorrer...

De querer o gemido fazer acontecer

De querer subir a estratosféricas dimensões...

De querer unir num, os nossos corações

De querer que sejam infinitas as nossas emoções...

De deixar-me inundar de ti estando perdido

Perdido nos teus caprichos que fazem de mim mendigo...

A querer suplicar a esmola da tua vontade

Aquela que me dás com olhares de maldade...

A maldade do escárnio consumado

Consumado e averbado...

Daquele que faz fluidos correr

E os nossos corpos estremecer...

Das tremuras da intensidade

Com que nos demos de verdade...

Ao sentimento do amor

Amor estado sempre maior...

Que nos une

E nos causa criatura imune...

Ao mal do mundo

Porque somos criação: ser profundo...

Capaz de tudo aniquilar

E de tudo superar...

Com o sentimento de amar e ser amado

Tudo gerado pelos... Olhares de pecado...

João Paulo S. Félix 

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